Disfagia: a dificuldade de engolir

Uma das necessidades básicas da vida é a ingestão de alimentos. No homem e demais mamíferos, a faringe (garganta) é um órgão que serve para passagem tanto de comida quanto de ar. Em condições normais, quando uma pessoa engole saliva ou comida, existe a habilidade de fechar a via da respiração, fazendo com que o bolo alimentar vá para o esôfago e estômago ao invés de cair na traquéia e pulmões. Se isso não acontecesse, uma parte do que engolimos cairia nas vias respiratórias e teríamos pneumonias de repetição, o que seria incompatível com a vida. Da mesma forma, quando respiramos, o ar passa livremente.

A capacidade de respirar, engolir e falar é muito complexa e depende de alguns reflexos. Assim, quando um corpo estranho, como a própria saliva, entra na traquéia, ocorre um violento reflexo de tosse, que é uma forma de proteção dos pulmões. Outro exemplo desse controle é que a mastigação inibe o ato de engolir: tente engolir enquanto mastiga!

Toda dificuldade em engolir é chamada de disfagia. A disfagia é ainda um campo sob estudo, pesquisa e novas descobertas, interessando a médicos, fonoaudiólogos e outros profissionais da saúde. É uma queixa frequente, sendo muito encontrada em alguns grupos de pessoas: pacientes que tiveram acidente vascular cerebral (“derrame”), pessoas sob cuidados de enfermagem em casa (o chamado “home care”), idosos portadores de demência e indivíduos que trataram câncer da garganta e de toda a região da cabeça e pescoço. Uma das consequências temidas nesses grupos de pessoas são as chamadas aspirações, ou seja, quando saliva, comida e secreções penetram através das cordas vocais para traquéia e brônquios, chegando aos pulmões e causando engasgos, tosse crônica e até pneumonia, que pode ameaçar a vida.

Hoje em dia, existem recursos para examinar pessoas com disfagia no sentido de encontrar a causa e propor o tratamento adequado. Um método é o exame de endoscopia da garganta (laringoscopia), de preferência com aparelho flexível que, passando pelo nariz, chega até a faringe e permite filmar e estudar toda a garganta. Outro método é a chamada vídeo-fluoroscopia, que é feita em conjunto por um médico radiologista e uma fonoaudióloga especializada. Neste último exame, o paciente engole um líqüido e é feita uma filmagem por aparelho de raios-X.

Dependendo da doença que causa a dificuldade de engolir, o tratamento pode ser desde mudança na dieta e terapia orientada pela fonoaudióloga até, em casos mais graves, traqueostomia (criação de uma comunicação da traquéia com a pele da parte da frente do pescoço, para que o paciente possa respirar por aí com segurança) ou a criação de outras formas de alimentação, como a passagem de sondas diretamente até o estômago.

Como em outras doenças, na disfagia é importante reconhecer o problema e encaminhar o paciente para uma avaliação por um especialista.