Conheça as doenças da tireoide
Cerca de 200 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem algum tipo de doença da glândula tireóide. Em geral, são situações passíveis de tratamento, seja clínico, seja cirúrgico.
A tireoide é uma glândula que pesa normalmente de 25 a 30 gramas, localizada na parte anterior baixa do pescoço. Localiza-se adiante da laringe (caixa da voz) e da traquéia. Apresenta dois lobos, o direito e o esquerdo, unidos entre si através de um istmo. Produz dois hormônios, o T3 e o T4, que regulam o metabolismo do corpo, crescimento e desenvolvimento.
O iodo, utilizado na fabricação dos hormônios tireoidianos, é obtido basicamente pela alimentação. Algumas regiões são tradicionalmente carentes do iodo, contudo, ações governamentais fizeram incluir iodo no sal de cozinha. Assim, atualmente, são raras as regiões de carência de iodo e onde exista o bócio endêmico – de ocorrência em grandes contingentes da população.
Em geral, as doenças de tireoide são de instalação lenta. As mulheres são mais acometidas que os homens.
DOENÇAS DA TIREOIDE
1) Quanto ao funcionamento:
– Hipertireoidismo: funcionamento exagerado, devido a uma produção excessiva dos hormônios
– Hipotireoidismo: situação inversa
2) Bócio: todo aumento no tamanho da glândula. Nem sempre significa doença, podendo ocorrer também em situações como na puberdade e na gravidez. O bócio pode ser:
– Difuso: toda a glândula está aumentada
– Nodular: nódulos (caroços) tireoidianos são muito freqüentes na população. Como uma pequena quantidade deles é maligna, devem ser investigados.
HIPOTIREOIDISMO
O hipotireoidismo – tireoide pouco ativa – ocorre quando a glândula tireoide não produz quantidade suficiente dos seus hormônios – T3 e T4. Pode ser congênito (quando a criança nasce com esta condição) ou adquirido, sendo a causa mais comum a tireoidite crônica de Hashimoto, muito encontrada em mulheres com mais de 40 anos de idade.
O hipotireoidismo ocorre em cerca de 20% das pessoas. Ocorre uma diminuição no metabolismo: diminuição do apetite, intolerância ao frio, pele seca e espessa, cabelo frágil, cansaço, disfonia, constipação, fraqueza muscular e perda de memória. O espessamento de pele e tecido subcutâneo é o chamado mixedema. O diagnóstico é confirmado pela queda dos hormônios T3 e T4 e aumento do TSH.
O hipotireoidismo neonatal pode ser diagnosticado pelo chamado “teste do pezinho”. Como os hormônios tireoidianos são muito importantes para o desenvolvimento do cérebro, se o diagnóstico não for feito, a criança terá sérias repercussões no seu desenvolvimento mental e físico, resultando no chamado cretinismo. O quadro inclui retardo mental, dificuldade visual, macroglossia (aumento do tamanho da língua), astenia e cansaço. O diagnóstico logo após o nascimento evita esses sintomas e a criança terá um desenvolvimento normal.
O tratamento do hipotireoidismo é simples: a reposição de hormônio sintético, através de um comprimido diário tomado por via oral, cuja dose é orientada pelo especialista. Uma vez acertada a dose adequada, convém realizar controles clínicos anuais com a dosagem dos hormônios no sangue.
Uma vez que o diagnóstico de hipotireoidismo esteja correto, o uso da reposição hormonal por via oral é para toda a vida. Desde que a tireoide perca sua função, ou seja, fique “preguiçosa”, as alterações que causam essa situação duradouras e também progressivas. É importante lembrar que o paciente com hipotireoidismo nunca deve interromper o uso do hormônio por conta própria, mesmo na coexistência de alguma outra doença.
HIPERTIREOIDISMO
O bócio difuso tóxico é conhecido por Doença de Graves, em homenagem ao médico irlandês que o descreveu, em 1835. É também conhecido por tireotoxicose.
Chama-se bócio porque há normalmente um aumento no volume da glândula tireoide à palpação. É difuso, pois toda a glândula está alterada – e não apenas um nódulo. É dito tóxico, já que caracteriza-se pelo hipertireoidismo – produção aumentada dos hormônios tireoidianos T3 e T4. É mais frequente no sexo feminino.
É uma doença autoimune, ou seja, o sistema imunológico cria auto anticorpos que estimulam a tireoide a produzir seus hormônios em grande quantidade.
A quantidade aumentada de hormônios tireoidianos circulantes leva a diversos sinais e sintomas: nervosismo, perda de peso, perda de gordura e de massa muscular, intolerância ao calor, taquicardia, pulso acelerado, palpitações, mãos quentes, úmidas e trêmulas e bócio (aumento de volume da glândula).
Resumidamente, podemos dizer que os sintomas refletem uma aceleração no metabolismo do organismo. Assim, por exemplo, apesar de um aumento do apetite, há uma perda do peso.
A chamada oftalmopatia, ou seja, acometimento dos olhos, está presente em metade dos casos. O sinal mais significativo é o exoftalmo, situação em que os olhos estão protuberantes, “saltados”, devido a um aumento na gordura retro orbitária, ou seja, localizada atrás dos olhos.
Há três tipos de tratamento:
1) Medicamentoso: a primeira abordagem deve ser através das drogas anti-tireoidianas. Permite um alívio do desconforto do quadro clínico do hipertireoidismo. Devem ser utilizadas por tempo prolongado – meses ou anos – e, ao serem suspensas, mais da metade dos pacientes volta a ter os sintomas novamente. Há outras medicações que auxiliam no tratamento.
2) Dose terapêutica de iodo: o paciente ingere uma dose calculada de iodo radioativo que, ao ser captado pela tireoide (que concentra mais de 90% do iodo presente no organismo), destruirá a glândula. O uso em paciente jovens é questionado, devido a possíveis efeitos da radiação.
3) Cirurgia: a tireoidectomia está indicada para casos em que a glândula é muito volumosa. É também o melhor método para pacientes abaixo dos 25 anos de idade.
NÓDULO TIREOIDIANO
O nódulo tireoidiano é um aumento de volume no pescoço que faz corpo com a glândula tireoide. Ele pode ser único ou múltiplo.
A presença de bócio – ou aumento da tireoide com mais de um nódulo – é um achado muito frequente na população, em especial nos mais idosos e, na maioria da vezes, não causa sintomas. O achado de nódulo único é também comum. O fato é que a grande maioria das pessoas portadoras de nódulo na glândula desconhece que o tenham e viverão e morrerão com ele, sem que cause qualquer distúrbio.
Em geral, nos casos de nódulo solitário, o restante da glândula encontra-se normal e, como consequência, o indivíduo possui uma produção normal dos hormônios tireoidianos – T3 e T4. Assim, não costuma estar em hiper- nem em hipotireoidismo.
Atualmente, o principal teste para detecção de malignidade é a chamada punção aspirativa por agulha fina, ou seja, uma agulha é introduzida dentro do nódulo e é realizada a aspiração de suas células com uma seringa. O material recolhido é preparado e enviado para um médico anátomo-patologista, que fará sua leitura.
A indicação cirúrgica dos nódulos pode ser resumida em quatro itens:
– Hipertireoidismo;
– Quando é compressivo, deslocando estruturas vizinhas, como os grandes vasos e a traqueia;
– Estética: indicação relativa;
– Suspeita ou confirmação de malignidade. Aqui, os principais parâmetros são a experiência clínica do médico examinador e os achados da biópsia por agulha.
Hoje em dia, a operação da glândula tireoide é feita com bastante segurança. Uma inovação recente é a cirurgia minimamente invasiva vídeo-assistida. A cicatriz é bem menor que o habitual e o pós-operatória é mais confortável.
CÂNCER DA TIREOIDE
Há diversas causas para a formação de um nódulo tireoidiano. O câncer é a menos comum, porém, é a mais importante. Assim, a principal razão para se investigar um nódulo é diagnosticar aqueles que são malignos. Na verdade, o câncer está muito mais presente entre os nódulos solitários (únicos) do que nos casos de bócio multinodular.
Pessoas que tenham recebido radioterapia na região do pescoço previamente e que apresentem nódulo na tireoide devem ser avaliadas com especial atenção, pois se trata de um fator de risco para câncer. Uma comprovação disso é a elevada incidência de câncer da glândula em regiões previamente submetidas a acidentes nucleares, como em Chernobyl, na antiga União Soviética.
O câncer da tireoide é conhecido como um “câncer bonzinho”, pois em geral não é muito agressivo e a chance de cura através da cirurgia é muito alta.
