Como viver com Laringectomia?

O câncer de laringe é uma enfermidade relativamente rara sendo mais frequente no sexo masculino e principalmente em fumantes, embora também ocorra em não-fumantes.

O tratamento do câncer de laringe pode ser realizado através de radioterapia, quimioterapia, cirurgia ou ainda a combinação desses tratamentos, dependendo da fase em que se encontra a doença. A laringectomia total é um tipo de intervenção cirúrgica em que o tumor é retirado juntamente com a laringe. Desse modo, o indivíduo perde a capacidade de falar e grande parte das funções do nariz.

São funções relacionadas ao nariz:

– Aquecimento do ar

– Umidificação

– Filtração das impurezas

– Sentido do olfato

– Papel importante no paladar

O laringectomizado recebe uma abertura na base do pescoço, que vai permitir ao mesmo a respiração normal. Essa abertura é conhecida como traqueostoma e será a via pela qual o indivíduo passará a respirar, tossir, espirrar, em substituição à boca e o nariz. Após a cirurgia haverá um tubo (cânula) que irá manter o traqueostoma aberto até a cicatrização total.

Mesmo após uma cirurgia bem-sucedida, pode haver a indicação de radioterapia para eliminar quaisquer células tumorais remanescentes. É comum também a necessidade do uso de cânula no traqueostoma por um determinado período.

AS FUNÇÕES DA LARINGE

Geralmente não se atribui muito valor à capacidade de falar, pois ela é dada como inerente. A fala é a melhor e mais conveniente forma de comunicação para o indivíduo expressar suas emoções e pensamentos. O som é produzido quando o ar expelido dos pulmões bate nas cordas vocais (presentes na laringe) provocando sua vibração. A fala se dá quando o som é usado pelos lábios, língua, bochecha e palato que o transformam em palavras.

Após a laringectomia, o ar que você vai inspirar será seco e frio e não mais filtrado pelo nariz, fazendo com que a respiração seja mais afetada pelo meio ambiente. Por esse motivo, é possível que você venha a ter problemas como tosse e expectoração com excesso de secreção. Porém, há soluções que poderão diminuir esses problemas como, por exemplo, filtros responsáveis por simular as funções de filtragem e aquecimento do ar, anteriormente realizadas pelo nariz.

Você poderá tomar banho de chuveiro após a cirurgia, porém tenha cuidado para que não entre água no traqueostoma. Existem protetores especiais que permitem um banho de chuveiro sem preocupação com a aspiração de água.

PERDA DA VOZ

É verdade que após a laringectomia total perde-se a capacidade de falar, mas isso não significa a perda da capacidade de comunicação. É possível se comunicar pela escrita ou por meio de leitura labial.

A laringectomia total retira a capacidade de gritar ou gargalhar, entretanto, será possível voltar a falar. Um grande número de laringectomizados poderá lhe dizer isso com suas próprias vozes!

Cada paciente tem suas características e se recuperam de maneira diferente após a cirurgia, no momento exato o seu médico indicará o início da reabilitação da voz com um fonoterapeuta. Este irá prepará-lo para esta nova fase, podendo, inclusive, ajudá-lo a recuperar boa parte do olfato ensinando técnicas desenvolvidas por especialistas dessa área.

Três maneiras de recuperar a fala

  1. Voz esofágica

O aprendizado da técnica normalmente é longo e nem todos conseguem uma voz suficientemente clara com ela. Sabe-se que podemos gerar alguma vibração na região da garganta a partir do ar engolido e logo em seguida expelido, como um arroto controlado. O paciente poderá usar essa vibração como base e usar os lábios, língua, palato e dentes para transformá-la em palavras, gerando aquilo que chamamos de voz esofágica.

  1. Laringe eletrônica

Propiciam uma voz quase que imediata, ainda que com sonoridade robotizada. Esses aparelhos são de especial utilidade quando é impraticável o aprendizado da voz esofágica ou a aquisição de próteses traqueoesofágicas. A laringe eletrônica, quando bem posicionada entre a parte inferior do queixo e o pescoço, produz uma vibração sonora que poderá ser articulada na forma de palavras. É muito importante que a articulação das palavras seja realizada da melhor maneira possível para a transformação de uma voz inteligível. O único inconveniente é que o som emitido é muito robotizado.

Os aparelhos utilizam baterias recarregáveis com boa duração até a troca.

  1. Prótese traqueo-esofágica

Atualmente é o método preferido para a reabilitação vocal. É realizada uma cirurgia para a confecção de uma fístula (canal de ligação) entre a traqueia e o esôfago, na qual é colocada uma pequena prótese de silicone que funcionará como uma válvula unidirecional. Assim, ao expirar o ar e ocluir simultaneamente o traqueostoma, o ar que sai do pulmão é impulsionado através dessa válvula até o esôfago, onde a vibração produzida pela passagem do ar produzirá a voz traqueoesofágica. Durante a deglutição, essa válvula se fecha impedindo a passagem de alimentos para a traqueia. Diferentemente de outros métodos, o laringectomizado tem a possibilidade de controlar o volume, a entonação e o comprimento das frases, uma vez que o ar do pulmão é utilizado da mesma maneira que antes da cirurgia. Existem várias próteses no mercado mundial, mas no Brasil somente é comercializada a melhor delas, que é importada da Suécia. A prótese pode ser colocada no ato cirúrgico da laringectomia total ou tempos depois da cirurgia inicial.

COMO CUIDAR DA PRÓTESE FONATÓRIA

É muito comum que com o tempo as próteses acabem sendo atacadas por fungos que prejudicam o funcionamento da prótese necessitando a troca da mesma. Por isso é importante limpar, uma ou duas vezes por dia, dentro da prótese com a escova de limpeza específica. No caso de vazamento através da válvula, uma primeira escovação deverá ser realizada na tentativa de solucionar o problema, sendo muitas vezes o suficiente. A prótese tem uma vida útil média de 5 meses.

PROTEÇÃO DIÁRIA

É conveniente que o traqueostoma esteja sempre protegido do pó e do vento usando um protetor de tecido leve, que oferecerá proteção e proporcionará um aspecto estético melhor, contribuindo para a autoestima do laringectomizado, fator de suma importância para sua qualidade de vida.

Concluindo, pedir ajuda nessa hora de dificuldade não é sinal de fraqueza, mas sim de força e desejo de se reabilitar e tocar a vida para frente. Empatia, carinho e ouvir o que se tem a dizer sem emitir julgamentos são atitudes de grande ajuda para a cura e recuperação. Gentileza e atenção para com os outros permite o expressar de emoções numa atmosfera de entendimento e amor. Não há nada que você tenha feito voluntariamente para causar este câncer, todos fazem escolhas achando que estão fazendo a melhor para o momento.